Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Georges Gastaud (Partido do Renascimento Comunista em França - PRCF)

não é um trunfo pequeno, na luta de classes, não ter diante de si, institucionalmente, “senão” os exploradores do seu próprio país, quando se trata de fazer recuar o capital e, quando chegar a hora, de derrubar o próprio capitalismo.

 

 

Capturar456789.JPG

A nação é o povo”

Georges Politzer

Brexit: não há nada para chorar!

Como se pode imaginar, os militantes verdadeiramente comunistas e 100% antiMaastricht do PRCF não se juntam ao coro dos média europeus beatos que lamentam a saída do Reino Unido desta triste prisão de povos que é a UE. No entanto, isso é de somenos, depois dos anos que a oligarquia britânica levou a sabotar a decisão soberana dos seus concidadãos de finalmente aceder ao voto maioritário dos britânicos, com a classe operária à frente: o de deixar uma Europa totalmente supranacional concebida para destruir os serviços públicos, cortar salários, impulsionar as deslocalizações, acelerar as privatizações, desmantelar as conquistas sociais, humilhar a soberania dos povos, guerrear contra os povos do sul, dominar os países do oriente, pressionar militarmente a Rússia e impedir qualquer alternativa de progresso em nome da “economia de mercado totalmente aberto ao mundo em que a concorrência é livre e não falseada” consagrada em todos os tratados europeus.

Interesse e limites de classe do Brexit para os trabalhadores britânicos

1 (1).JPG

Isso de forma alguma significa que nós, o PRCF, imaginaríamos o Brexit com o que quer que fosse de semelhante àquilo que o Partido Conservador queria fazer (os social-democratas do Partido Trabalhista recusaram-se, como sempre, a assumir claramente as aspirações dos operários à soberania nacional e ao progresso social). Porque, obviamente, uma parte dos capitalistas britânicos virados para o Atlântico e amarrados a Trump só trocam uma dependência por outra, com a esperança de ir ainda mais longe na desregulamentação social já amplamente praticada por Thatcher e Blair. Pelo menos os Conservadores já não poderão refugiar-se atrás de Bruxelas para se recusarem a satisfazer as reivindicações populares: tanto melhor para o proletariado britânico, porque não é um trunfo pequeno, na luta de classes, não ter diante de si institucionalmente, “senão” os exploradores do seu próprio país, quando se trata de fazer recuar o capital e, quando chegar a hora, de derrubar o próprio capitalismo [1].

2 (2).JPG

Enquanto nós, trabalhadores franceses, que combatemos as funestas reformas por pontos, temos de combater não apenas o governo liberticida de Macron, mas a “recomendação” de Bruxelas feita à França, na primavera de 2018, para instituir o mais breve possível um “regime único” para “realizar o seu ajustamento estrutural”, “fazer cinco mil milhões de euros de poupança” e aproveitar “os ganhos de produtividade obtidos na administração pública para melhorar o rácio da dívida”.

3 (1).JPG

Por outras palavras, quando um povo recusa um diktat europeu (como, na verdade, são as reformas por pontos), esse povo deve daqui para a frente derrotar não apenas a “sua” grande burguesia, mas também a dos outros 26 estados burgueses europeus coligados que podem, por outro lado, bloquear a internacionalização das lutas, com o reforço amarelado da Confederação Europeia de Sindicatos (presidida por L. Berger, e isso já diz tudo!)…

Frexit progressista!

4 (1).JPG

Portanto, não devemos confundir o Brexit liderado pela burguesia britânica com o Frexit progressista centrado no mundo do trabalho e orientado para o socialismo que o PRCF propõe. Na França, relembremo-lo: TODOS os CEO do CAC-40 [sigla de Cotation Assistée en Continu, é um índice bolsista que reúne as 40 maiores empresas cotadas em França – NT] se manifestaram a favor da manutenção do euro a todo custo, em 2008, quando a crise financeira mundial abalou o sistema monetário, inclusive apelando servilmente ao fortalecimento da hegemonia alemã sobre a UE e a gestão da moeda única.

5 (1).JPG

Em França, o MEDEF [Mouvement des entreprises de France, Movimento das Empresas Francesas, a maior organização patronal de França – NT] está unanimemente arrumado em posição de batalha atrás do Manifesto "Besoin d'aire" [É preciso espaço – NT], publicado em 2012 por Laurence Parisot, então presidente da associação patronal: antinacional e antissocial como o diabo, o grande patronato “francês”, sem uma ponta de vergonha, apela à dissolução da nação para construir os «Estados Unidos da Europa» e a «União Transatlântica», à liquidação dos concelhos e dos distritos para “reconfigurar os territórios” segundo o modelo dos Euro-Länder, à passagem ao inglês imperial nos locais de trabalho (o inglês foi descrito como “a língua dos negócios e das empresas” pelo Baron Seillière, falando em nome dos patrões europeus).

6 (1).JPG

Enquanto isto, Macron mostra a sua determinação em realizar o “salto federal europeu”, substituindo a “soberania nacional” pela “soberania europeia” e a própria ideia de defesa nacional pelo “exército europeu”, tudo no quadro da NATO e dos seus planos de vingança contra o povo russo. Esta orientação antinacional da “nossa” grande burguesia está tão arraigada no ADN dos “nossos” círculos monopolistas, que agora a Peugeot – cujo CEO Yves Calvet apelou ao voto “não” a Maastricht, em 1992 – abandona toda a postura “patriótica” e protecionista: decidiu a fusão com a Chrysler-Fiat para se tornar totalmente transnacional, e a PSA pretende de agora em diante continuar – sob um novo nome em inglês? – a sua procura de lucro à escala planetária. É isto que significa a expressão patronal “É preciso espaço” (no passado, teria sido dito “Lebensraum”, espaço vital! [2], porque, a partir de agora, a oligarquia “francesa” está a sufocar na França e tenta reorientar as suas predações e as suas fusões monopolistas à escala transcontinental.

7.JPG

Nesses círculos herdeiros dos emigrantes de Koblenz, dos versalheses de Thiers e da “sumarenta colaboração económica” dos anos sombrios (de qualquer forma, não para o capital!), já ninguém quer tirar a França do euro, essa austeridade continental ancorada no marco, da UE, esta Aliança Sagrada liderada por Berlim e supervisionada por Washington, da NATO, esta máquina para combater a Rússia e o poder emergente da China. Tanto é assim que não apenas as linhas LR e LREM, não apenas o PS, mas também a dinastia Le Pen (pai, filha e sobrinha…) e até Dupont-Aignan se inscrevem agora completamente nos limites do euro e da UE supranacional que todos esses senhores dizem querer “reformar por dentro”.

8.JPG

Quanto aos social-democratas e aos seus eternos satélites eleitorais “eurocomunistas”, impõem ao movimento operário o falso slogan da “reorientação progressista da Europa”, que impede o movimento popular de romper as cadeias da social-eurocracia e do aparelho eurodependente da CES, presidida por Berger! É também o que faz toda a inconsistência objetiva do “soberanismo” burguês, na sua pretensão de separar a questão da independência nacional do seu conteúdo anticapitalista; no entanto, apenas esta dimensão anticapitalista é capaz de fundir o patriotismo popular com o combate social para tornar os trabalhadores o centro de gravidade da emancipação indissoluvelmente nacional e social do nosso país. Foi isso que o CNR [Conselho Nacional da Resistência] já tinha esboçado quando convidou, no seu programa OS DIAS FELIZES, a “colocar o mundo do trabalho no centro da vida nacional”.

Patriotismo e combate pelo socialismo são indissociáveis!

9.jpg

É por isso que nós, militantes comunistas leais às lutas do grande PCF contra a Comunidade Europeia de Defesa (1954) e pelo “Não” popular a Maastricht, reafirmamos aqui: a luta pela emancipação da França será liderada pelo mundo do trabalho ou não se dará, de tal modo a reconquista da soberania nacional é inseparável da nacionalização democrática de setores-chave da economia, da reconstituição planificada do “produzir em França” e do estabelecimento de uma nova constituição centrada na democracia popular. Porque enquanto a burguesia revolucionária de 1793, durante muito tempo, conduziu o movimento com o objetivo de fundar a nação republicana, a grande burguesia contrarrevolucionária de hoje dissolve a nação no que Bruno Lemaire chama cruamente o “império europeu”.

É por isso que, nas condições francesas –, agrade ou não ao soberanismo burguês, que nega a dimensão anticapitalista, anti-imperialista e antifascista do Frexit –, a retirada francesa da UE atlântica só pode ser centrada no mundo do trabalho, unindo as camadas populares e médias contra a grande burguesia antinacional. Decididamente, se um pouco de patriotismo superficial afasta o combate de classe pelo socialismo, muito aproxima-o ... e vice-versa!

10.png

Notas

[1] Sublinhe-se que, no momento em que a Grã-Bretanha deixa a União Europeia, Boris Johnson é forçado a conceder um aumento de 6% no salário mínimo nacional, implementa investimentos públicos sem precedentes no National Health Service (o Serviço Nacional de Saúde britânico) e lança a renacionalização de várias linhas ferroviárias importantes. Que contraste com a situação dos trabalhadores em França, onde o hospital público é estrangulado pela euro-austeridade, as linhas TER e SNCF, os aeroportos, os correios são privatizados e os salários bloqueados pelas diretivas europeias e sob a coação do euro!

[2] Teoria adotada pelos nazis segundo a qual o espaço vital seria o espaço necessário para a expansão territorial de um povo, no caso, o povo alemão. Não apenas a restauração das fronteiras de 1914, mas também a conquista da Europa Oriental, espaço onde as necessidades, relativas à dominação territorial e recursos minerais desse povo seriam supridas. – NT  

Fonte: https://www.initiative-communiste.fr/articles/europe-capital/brexit-frexit-cest-par-la-porte-a-gauche-que-la-france-doit-sortir-du-carcan-europeenne-par-georges-gastaud/, acedido em 2020/02/04

Tradução do francês de TAM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Print Friendly and PDF

Autoria e outros dados (tags, etc)

Temáticas:



Nota dos Editores

A publicação de qualquer documento neste sítio não implica a nossa total concordância com o seu conteúdo. Poderão mesmo ser publicados documentos com cujo conteúdo não concordamos, mas que julgamos conterem informação importante para a compreensão de determinados problemas.


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.