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Jaime Cedano

Os assassinatos de líderes sociais de zonas agrárias em departamentos como El Chocó, Cauca, Nariño, Putumayo, Antioquia e outros, ou todos, têm que ver, não com questões de saias, mas com problemas de terras, água, recursos naturais, controles regionais e poderes políticos regionais. Estes são os factos que causaram a violência colombiana no campo, pelo menos, nos últimos cem anos.

 

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Diversas, bem conhecidas e respeitadas organizações internacionais manifestaram a sua condenação e rejeição do sistemático assassinato de líderes sociais na Colômbia.

 

A notícia conseguiu passar nos órgãos informativos e outros meios de comunicação de vários países. Organizações de direitos humanos manifestaram o seu protesto. O vice-presidente realizou visitas de caráter extraordinário às regiões onde ocorreram alguns dos assassinatos e realizaram-se reuniões com os chamados “Conselhos de Segurança”. O presidente lamentou o facto e apresentou medidas para evitar os assassinatos e garantir a segurança às pessoas perseguidas. Mas, para o Ministro da Defesa do governo da Colômbia, Sr. Luis Carlos Villegas, os líderes sociais estão a ser mortos por ciúmes. Por “questões de saias”, diz o flamejante ministro, recorrendo a uma expressão popular para referir as lutas, os enredos ou os crimes passionais, nos quais se supõe, por causa das saias, que se trata de lutas pelo amor de alguma mulher.

 

Absolutamente lamentáveis, erradas, falazes e estúpidas, as declarações do ministro.

 

Os assassinatos de líderes sociais de zonas agrárias em departamentos como El Chocó, Cauca, Nariño, Putumayo, Antioquia e outros, ou todos, têm que ver, não com questões de saias, mas com problemas de terras, água, recursos naturais, controles regionais e poderes políticos regionais. Estes são os factos que causaram a violência colombiana no campo, pelo menos, nos últimos cem anos. Nos anos oitenta, o terror foi provocado pela expansão violenta do narcotráfico.

 

Expropriações de terra à mão armada, à espingarda ou à motosserra, massacres e deslocalizações forçadas para ampliar as áreas de cultivo de drogas e corredores para levar a droga para o estrangeiro. Na década de noventa, soma-se a expropriação criminal para alargar as áreas para o cultivo industrial da palmeira africana e megaprojetos hidráulicos. O assassinato de líderes sociais e os massacres indiscriminados visaram quebrar a resistência camponesa a permanecer nas suas terras. Ao que se acrescenta, na presente década, o sistemático assassinato daqueles que se organizam para reclamar a devolução das terras roubadas, em conformidade com uma demagógica “lei de vítimas”, que inclui a suposta devolução das terras àqueles a quem lhes foram roubadas através da violência. Estamos a falar de vários milhões de famílias e de mais de seis milhões de hectares de terra. Por estas razões, as maiores mobilizações e protestos dos últimos anos na Colômbia foram protagonizados por camponeses, indígenas e comunidades das zonas agrárias. O mais poderoso foi a Paralisação Nacional Agrária de 2013, chamada “a rebelião das runas".

 

E vem o ministro dizer que são questões de saias.

 

A verdade é que todos os governos sempre justificaram de alguma forma os crimes contra as pessoas praticados por razões de terra ou de poder político. Justificaram uns, negaram outros, ou deram explicações peregrinas. O estranho é que, nestes tempos de acordos de paz, de leis das vítimas e Prémios Nobel da paz, o ministro diga o que disse e continue ministro. E que Santos não diga nada.

 

Ou, talvez, o estranho seja que continuemos a estranhar estas coisas, que ocorreram durante toda a vida.

 

Fonte: publicado em 2017/12/21, em http://www.pacocol.org/index.php/comunistas-en-el-exterior/3445-lios-de-ruanas

 

Tradução do castelhano de PAT

 

 

 

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