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Red Roja

… uma certa esquerda ocidental, mais uma vez, decidiu alinhar com os cantos de sereia da manobra imperial. …A gravidade deste posicionamento é ainda maior se considerarmos que a estratégia destes “golpes suaves” – promovidos pelos EUA, os seus aliados oligárquicos locais, os média e, até, pela fraude das “ONG” – se repetiu já em numerosos países (Líbia, Síria, Ucrânia, Venezuela e, agora, na Nicarágua). Em todos os casos, estes setores da esquerda de que falamos têm tomado posições que poderíamos qualificar de absurdas, se não fossem algo pior: traição e pura claudicação.

 

 

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A Red Roja reafirma o seu forte apoio ao governo nicaraguense perante a violência criminosa destes novos “contra”, que, com um descaramento sem paralelo, nos são apresentados pelos média como “progressistas”.

E fazê-mo-lo num contexto em que uma certa esquerda ocidental, mais uma vez, decidiu alinhar com os cantos de sereia da manobra imperial. Como exemplo, chegam agora da Nicarágua vozes de indignação com a posição assumida no conhecido programa Fort Apache contra o governo e a favor dos “rebeldes”.

A gravidade deste posicionamento é ainda maior se considerarmos que a estratégia destes “golpes suaves” – promovidos pelos EUA, os seus aliados oligárquicos locais, os média e, até, pela fraude das “ONG” – se repetiu já em numerosos países (Líbia, Síria, Ucrânia, Venezuela e, agora, na Nicarágua). Em todos os casos, estes setores da esquerda de que falamos têm tomado posições que poderíamos qualificar de absurdas, se não fossem algo pior: traição e pura claudicação.

No entanto, o mais perigoso é que, como a Red Roja vem afirmando desde que assumiu o seu critério anti-imperialista, estes claudicantes partem de “grãos de verdade” ... para acabarem a defender a pior das mentiras, a atitude mais reacionária possível no plano da confrontação mundial em curso. A nossa organização não se cansará de repetir que o imperialismo dos países centrais é o principal limite à liberdade dos povos e, até mesmo, a um mais profundo desenvolvimento dos seus processos sociais, pelo que, nenhuma crítica ou “exigência” pode entrar em contradição com o nosso principal trabalho. O que nos toca, a nossa responsabilidade, é enfraquecer a retaguarda imperialista, aqui, no coração da besta.

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O presidente Ortega venceu as eleições a um terceiro mandato, em 2016, com 72,4% dos votos e uma altíssima participação de 66%. O seu governo pertence à Aliança Bolivariana das Américas e apoiou Cuba e a Venezuela.

Um dado de crucial relevância geoestratégica é que Ortega estabeleceu acordos com a China para um importantíssimo projeto de canal interoceânico, assim como com a Rússia em matéria de segurança; razões pelas quais os Estados Unidos precisam de derrubar o seu governo e instalar em seu lugar um governo mais dócil.

A organização patronal nicaraguense convocou os protestos depois de Ortega ter aumentado as contribuições patronais para os fundos de pensões em 3,5%. As contribuições dos trabalhadores só aumentaram 0,75%! Além disso, o governo estava a apresentar esta proposta para desobedecer às recomendações do FMI, que exigia um aumento drástico da idade de reforma. O governo sandinista sentia-se com força para negar as exigências de austeridade do lobi empresarial e do FMI; alguns governos altamente elogiados pelos progressistas espanhóis, como a Grécia e Portugal, podiam aprender com esta attitude, especialmente quando a ninguém escapa que a Nicarágua não está na primeira divisão dos países desenvolvidos, mas tem sido histórica e secularmente sua vítima.

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O imperialismo é inteligente e procura amolecer a rebeldia contra os seus desmandos. Desde há muitos anos, o governo dos EUA percebeu que os partidos da oposição nicaraguense estavam desacreditados e que seria melhor financiar setores da “sociedade civil” e as ONG. As doações a este tipo de oposição ultrapassaram os 5 milhões de dólares desde 2014.

Desta forma, uma análise minimamente séria dos atores que apoiam e hegemonizam politicamente os protestos na Nicarágua deixa as coisas muito claras a quem tenha a honestidade de as aceitar. Desde Piero Coen, o homem mais rico da Nicarágua, que instigou os estudantes, até à Igreja Católica. Passando pela família Chamorro (de apelido tristemente celebre no país e representante da oligarquia latifundiária tradicional) e pelos filhos da burguesia do chamado Movimento de Renovação do Sandinismo, cada vez mais perto do Partido Republicano ianque.

Ou a líder feminista Azalea Solís, diretamente financiada pelo governo dos EUA. Ou o líder camponês Medardo Mairena, também adito do financiamento do Pentágono. Ou Felix Maradiaga, um membro do Forum Económico Mundial e beneficiário da chamada bolsa Gus Hart, instrumento norte-americano para financiar os lacaios da estatura de Yoani Sanchez ou Henrique Capriles.

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Os jornalistas norte-americanos de investigação, Kevin Zeese e Nils McCune, têm documentado, no sítio da rede Resistência Popular, de forma abrangente e rigorosa, qual tem sido o guião de violência na Nicarágua. Na verdade, foi inspirado nas guarimbas [distúrbios violentos] venezuelanas de 2014 e 2017 contra o presidente Nicolas Maduro e contra a Revolução Bolivariana.

Os meios de comunicação ocidentais esforçam-se por apresentar a situação como “repressão desproporcionada” contra uma oposição “pacífica” e “democrática”. Mais outro insulto à sua profissão. Apesar de tanto vídeo vitimista publicado na internet, a realidade é que foram organizados ataques armados contra edifícios governamentais, 60 dos quais foram queimados. Também foram atacados escolas, hospitais e até ambulâncias. Mataram 15 estudantes e 16 policias. 200 sandinistas foram sequestrados e muitos deles foram atroz e publicamente torturados. Os meios de comunicação não pararam de desinformar, vendendo tudo isto como repressão governamental! Quando os sandinistas, os polícias ou os transeuntes são assassinados, fala-se falsamente de repressão estatal!

O roubo de carros, os incêndios e os assassinatos para criar caos e pânico têm sido uma constante desde há meses. A contrainformação não vai explicar a realidade da oposição: mercenários pagos, com um longo historial de delitos. Apetrechados com cocktails molotov. Com lançadores de morteiros, pistolas e espingardas. Narcotraficantes, em muitos casos.

No entanto, quando os veteranos da guerrilha sandinista lideram a autodefesa dos bairros e são criadas barricadas contra os ataques da oposição, os meios de comunicação ocidentais classificam-nos, falsamente, como forças paramilitares! Além disso, falam-nos como se todos os estudantes nicaraguenses estivessem contra o governo, quando a União Nacional de Estudantes da Nicarágua tem defendido Ortega, o que a converteu num dos mais sangrentos alvos da violência da oposição.

Vamos por acaso esperar um par de décadas para que os média imperiais nos deem permissão para denunciar a montagem imperialista? Seria um exercício inútil muito típico nas nossas “democracias retardadas”.

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Nesta situação, a Red Roja expressa o seu repúdio a este “golpe suave” e o seu apoio ao governo nicaraguense, junto dos governos da Venezuela e da Bolívia, do Fórum de São Paulo, reunido nestes dias em Havana, e das forças anti-imperialistas de todo o mundo. Todos estes atores nos merecem muito mais respeito do que determinados “ONG, ecologistas e feministas”.

Seremos acusados ​​de seguidismo por aqueles que praticam o seguidismo perante o criminoso império do crime e usam as piores falácias de uma suposta “sociedade civil”, com notas de dólar nos seus bolsos. Não importa. Sabemos que nosso papel não é fazer “exigências” ao país agredido ou examiná-lo com uma lupa para realçar os seus defeitos. Naturalmente, saberemos salvaguardar as nossas necessárias críticas às linhas que sigam os processos revolucionários e progressistas da sua utilização criminosa pelo ogro imperial; aquele em que estamos imersos e com o qual nos recusamos a ter a menor cumplicidade. E é esse, no estrito plano da solidariedade anti-imperialista, o nosso papel (a nossa responsabilidade): enfraquecer a ofensiva atual e denunciar os objetivos evidentes que se escondem por detrás de tanta “revolução de cores”.

Os mesmos que, por detrás da oposição venezuelana, ou dos assassinatos de sindicalistas na Colômbia, ou da perseguição judicial contra Rafael Correa, no Equador, ou de acusações de corrupção na Argentina e no Brasil, incluem já a esquerda moderada. Porque os factos ocorridos na Nicarágua devem ser inseridos no contexto de uma onda reacionária que atravessa a América Latina e é promovida pelo imperialismo e os seus média.

Deixemos, pois, para outros, a simpatia de uns média que, desde logo, na luta entre povos e impérios não estão de modo algum “no meio”. Deixemos para os outros uma falsa neutralidade que só beneficia o lado mais poderoso: esse que, desde Washington ou Berlim, financia e promove uma conspiração feita à sua medida. Não seremos cúmplices, nem de forma ativa, nem de forma passiva.

Fonte: http://www.redroja.net/index.php/comunicados/4947-nicaragua-frente-a-la-contra-de-colores-y-sus-disfraces-nuestro-lugar-es-el-antiimperialismo-consecuente, publicado em 2018/07/29 e acedido em 2018/07/31

Tradução do castelhano de PAT

 

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