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António Freitas de Sousa

 

O Rife é uma das regiões mais pobres do país, que a monarquia tarda em promover, com os seus habitantes – habituados ao protesto – tentando minorar as condições a que estão sujeitos através da imigração ou da produção de haxixe, que inunda as maiores cidades da Europa e que alguns observadores afirmam ser uma atividade com ligações ao poder central.

 

 

O Rife volta a ser palco de protestos contra a corrupção e o desemprego. A região, que já foi independente, é das mais empobrecidas do país.

 

Os motivos são os de sempre e a região a do costume: o Rife – que ocupa a região montanhosa do Norte e Noroeste de Marrocos – tem sido palco de numerosas manifestações populares, a que a polícia do regime tem respondido com um crescendo de violência e que culminou com a prisão de um dos mais destacados manifestantes, Nasser Zefzafi, obviamente desempregado.

O Rife é uma das regiões mais pobres do país, que a monarquia tarda em promover, com os seus habitantes – habituados ao protesto – tentando minorar as condições a que estão sujeitos através da imigração ou da produção de haxixe, que inunda as maiores cidades da Europa e que alguns observadores afirmam ser uma atividade com ligações ao poder central.

Desta vez, os protestos (que já têm um nome: Al-Hirak al-Shaabi, ou Movimento Popular) começaram quando um pescador (Mouhcine Fikri, de 31 anos) foi atropelado por um camião, na sequência de uma rusga policial de que estava a ser alvo por suspeitas de tentar vender peixe obtido ilegalmente. A desproporção da abordagem levou os locais a iniciarem movimentações de protesto que têm estado mais ou menos ativas ao longo dos últimos meses.

A prisão de Nasser Zefzafi – que começou a liderar o processo de forma completamente espontânea, segundo avança a imprensa espanhola (recorde-se que Espanha mantém a posse de vários territórios no Rife) – só serviu para atear ainda mais os protestos. No final da semana passada foi convocada uma greve geral (regional) que acabou com novos confrontos entre os manifestantes e a polícia antimotim, costumeiramente chamada para acabar com protestos do género.

As manifestações – que, segundo os analistas, não têm nada a ver com questões religiosas – foram consideradas separatistas pela autoridade do Estado, mas os manifestantes têm recusado qualquer motivação do género, apesar de, nas manifestações, serem visíveis muitas bandeiras regionais e nunca a bandeira marroquina.

Os manifestantes têm alargado o âmbito das suas reivindicações, ouvindo-se palavras de ordem contra a corrupção, a repressão e o desemprego e pedindo o aumento dos investimentos reprodutivos na região – muito afetada pelo ‘desvio’ dos fundos públicos para Ceuta.

 

Protestos com décadas

 

O Rife – onde, entre 1921 e 1926, foi instalada uma república autónoma de Marrocos (daí os fantasmas do separatismo), mas conseguida à custa da guerra contra Espanha – tem sido palco de diversas ondas de protesto ao longo das últimas décadas. Os mais graves aconteceram em 1958 (dois anos depois da independência de Marrocos) e foram reprimidos pelo futuro Hassan II (pai o atual Mohammed VI) quando este era apenas comandante das Forças Armadas.

Segundo as crónicas da altura, o príncipe Hassan terá atacado a região com napalm – depois de os seus habitantes terem sido alvo, durante a República, de ataques químicos por parte dos espanhóis. Quando chegou ao poder, Hassan II nunca visitou a região, que se tornou paulatinamente cada vez mais pobre. A tais pontos, que os protestos regressaram em força em 1984, desta vez bastante mais politizados: incluíram o apoio declarado à independência da Palestina e a outras causas internacionais da agenda da esquerda europeia. Nada disso, ainda segundo a imprensa espanhola, se repete desta vez.

 

Fonte: publicado em 2017/06/13, em: http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noticias/agitacao-social-regressa-ao-norte-de-marrocos-171188.

 

 

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