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Iniciative Communiste *

 

A Coreia do Norte é o objeto de todos os fantasmas. Qualquer pessoa que tenha um outro olhar sobre a Coreia do Norte, diferente do olhar dos média dominantes, será facilmente qualificado de “marioneta do regime”.

 

 

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O povo coreano na vanguarda da resistência ao imperialismo e ao capitalismo?

A Coreia do Sul é abalada por grandiosas manifestações a exigirem a demissão da presidente – o silêncio dos média, em França, é impressionante. Silêncio e censura sobre as graves violações dos direitos humanos levadas a cabo pelo regime. Um regime que reprime os sindicatos e proíbe os partidos da oposição, como o partido progressista unificado. Um regime atualmente liderado pela filha do antigo ditador pró-EUA, Park. Em simultâneo, as informações – num contexto de guerra – que passam a respeito da Coreia do Norte fazem desta parte da península um país desconhecido em França.

O que se passa então na Coreia?

 

 

Com o apoio do PRCF 38 e do CISC, a associação de amizade franco-coreana organizou uma conferência em Grenoble, em 30 de janeiro, para explicar a situação na península coreana. Tendo como convidado Jin Yongha, responsável internacional do PDP e sindicalista da poderosa Confederação Geral dos Trabalhadores Coreanos (KCTU) e Benoit Quennedey da AAFC, que é, designadamente, o autor de A Economia da Coreia do Norte em 2012, publicado por Les Indes Savantes, 2013, série “Ásia”.

 

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Apresentação de Kim Yong Ha, responsável do Comité de Trabalhadores do Partido Democrático e Popular (Coreia do Sul)

 

Contexto histórico

 

A situação na Coreia é muito mal conhecida em França. Para conhecer a situação na Coreia é necessário conhecer a sua história. A Coreia é um pequeno país rodeado de grandes potências, que teve de lutar sem cessar para manter a sua independência. A política isolacionista prosseguida até 1910 impediu a industrialização do país e tornou-o vulnerável à invasão japonesa.

Seguiu-se a ocupação japonesa, de 1910 a 1945, com o objetivo de aniquilar a cultura coreana e a sua língua. Logo que, de seguida, os americanos ocuparam o sul da península, deram à Coreia do Sul uma aparência de independência, enquanto colocavam à cabeça do Estado sul-coreano os ex-dirigentes que colaboraram com os japoneses.

Isso levou a uma revolta muito forte dos sul-coreanos e à formação do Comité Nacional dos Trabalhadores da Coreia. Este sindicato apelou à greve geral e foi depois dissolvido pelo Estado sul-coreano, para ser substituído por sindicatos amarelos.

Uma ditadura militar perdurou dos anos 60 até o final dos anos 80 do século passado.

Um acontecimento importante foi a imolação pelo fogo do jovem trabalhador Jon-Tae-Il, em 1970, que marcou o movimento de resistência à ditadura.

Entre julho-setembro de 1987, uma série de greves sucessivas teve como reivindicação a criação de um sindicato democrático, o que se efetivou com a criação da Confederação Geral de Sindicatos (KCTU), em 1995.

Deste sindicato nasceu o Partido Popular Unificado, em 2000. Na Coreia é menor a distância entre o partido e o sindicato democrático do que, atualmente, acontece em França ...

 

Atualidade

 

O mandato do presidente sul-coreano é de 5 anos. A atual presidência de Park Geun-hye é o prolongamento da presidência reacionária anterior de Li-Myung-Bak.

A presidência de Li-Myung-Bak foi manchada, entre outras coisas, pela construção de um canal inútil e perigoso para o meio ambiente. 2009 foi um ano de grandes repressões contra os trabalhadores, com a proibição do sindicato dos funcionários públicos, enquanto o direito de organização é reconhecido pela presidência sul-coreana.

A presidência do Park Geun-hye começou em dezembro de 2012, após uma enorme fraude eleitoral. Em dezembro de 2014, o Partido Popular Unificado foi proibido, após a falsa afirmação de que teria preparado um golpe de Estado com a Coreia do Norte. Isso mostra o caráter fascizante da presidência de Park Geun-hye. Havia também o escândalo do naufrágio do Sewol, em abril de 2014, com 300 crianças mortas, um escândalo que nunca foi esclarecido.

Foram tomadas medidas repressivas contra os parentes das vítimas e os ativistas da verdade sobre o naufrágio, com prisões e detenções arbitrárias de vários dias.

Em 2013, a sede do KCTU foi invadida e o seu líder preso e condenado a 7 anos de prisão. A Organização Internacional do Trabalho condenou esta ação num protesto oficial.

As exigências de criação de sindicatos de funcionários públicos foram rejeitadas e o sindicato dos professores proibido.

É necessário saber que a Coreia do Sul tem 10 milhões de trabalhadores precários e três milhões de desempregados, em 40 milhões de habitantes, e não tem sistema de segurança social. A luta social e pelas liberdades democráticas na Coreia do Sul combinam-se com a luta contra as agressões imperialistas à Coreia do Norte. Participar em lutas sociais e sindicais na Coreia do Sul leva muitas vezes à prisão.

A repressão é particularmente forte nas grandes empresas, como a Samsung e a Hyundai,
cujo peso económico é esmagador. Na Hyundai há duas vezes mais trabalhadores precários do que trabalhadores permanentes.

Na Samsung, os sindicatos são proibidos. Houve recentemente um passeio europeu de sindicalistas (ilegais) da Samsung. Um grave problema é, especialmente, a exposição dos trabalhadores a substâncias tóxicas, que causaram, pelo menos, 80 leucemias.

A tudo isto, juntam-se outros problemas, como os da dívida estudantil. Em conclusão, a resistência é forte no seio do povo da Coreia do Sul e portadora de esperança para o futuro.

 

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Apresentação sobre a Coreia do Norte e a Associação de Amizade França-Coreia por Benoit Quennedey, secretário nacional da Associação de Amizade França-Coreia

 

A Coreia do Norte é o objeto de todos os fantasmas. Qualquer pessoa que tenha um outro olhar sobre a Coreia do Norte, diferente do olhar dos média dominantes, será facilmente qualificado de “marioneta do regime”.

Toda a imagem da Coreia do Norte no Ocidente é fabricada pela Coreia do Sul e os EUA, que aí estacionam 300 mil soldados. Isto explica-se especialmente pelo sistema económico capitalista, a sua posição geoestratégica, rodeada por grandes potências, e as suas capacidades tecnológicas, dado que a Coreia do Norte é um dos 10 países do mundo capazes de lançar um satélite no espaço.

Os norte-coreanos não pretendem ser um modelo. A cultura política local é muito influenciada pelo confucionismo. Trata-se de uma adaptação local das democracias populares.

A Associação de Amizade França-Coreia considera necessário o diálogo com a Coreia do Norte, porque é um modelo de sociedade diferente. Desde a sua fundação, em 1969, a AAFC não tem apenas comunistas, mas também gaulistas de esquerda e cristãos progressistas.

O destino das duas Coreias está ligado, apesar da divisão.

Como o demonstrou uma fase de democratização da Coreia do Sul, em 1998-2008, e de diálogo com o Norte, seguido de uma fase de fascização e de agressividade contra a Coreia do Norte, a luta social na Coreia do Sul e a luta pela paz e a reunificação entre as duas Coreias estão ligadas.

O objetivo da AAFC não é o da defesa de tudo, em bloco, de um governo que não pretende exportar o seu modelo, mas o de dar a chave para compreender melhor a situação na Coreia.

A situação francesa é especial, porque é o único país europeu, com a Estónia, que não reconhece a República Popular Democrática da Coreia.

A AAFC não está apenas interessada no Norte, mas também no Sul; daí, o seu contributo na fundação do Comité Internacional para as Liberdades Democráticas na Coreia do Sul.

É muitas vezes posta a questão de saber se a Coreia do Norte é um país socialista. O socialismo é um conceito que assume, na realidade, formas diversas. Há na Coreia do Norte características essenciais do socialismo, designadamente, com a propriedade coletiva dos meios de produção, o sistema de saúde e de educação gratuitos e habitações a preços módicos.

No entanto, a Coreia do Norte não se reconhece no marxismo-leninismo, mas numa ideologia própria, a ideologia Juche, fortemente marcada pelo confucionismo.

A Coreia do Norte foi fundada por resistentes à ocupação japonesa e a ameaça imperialista permanente levou-a a manter, deste período, uma certa opacidade dos mecanismos de decisão no topo do executivo, como é costume em todas as redes de resistência.

Note-se, contudo, que um certo número de direitos sociais é garantido na Coreia do Norte e que o poder na base é exercido pelas células do Partido do Trabalho da Coreia, que assume as suas decisões, informações e opiniões no topo da hierarquia.

Durante a década de 1990, a Coreia do Norte perdeu, subitamente, quase todos os seus parceiros comerciais. Além disso, a perda de acesso ao petróleo soviético e graves inundações prejudicaram seriamente a agricultura norte-coreana, até então altamente mecanizada, nesses anos 90. Isso levou a uma série de reformas, como a legalização dos mercados agrícolas de excedentes, a monetarização da economia e uma autonomização das empresas, sempre de posse coletiva.

O programa nuclear norte-coreano tem a sua origem na falta de confiança nos seus aliados, o que se revelaria justificado na década de 1990. Os dirigentes norte-coreanos consideraram que só a dissuasão nuclear podia protegê-los de uma invasão dos EUA, opinião confirmada posteriormente, entre outras intervenções, pelas invasões perpetradas pelos EUA no Iraque, Afeganistão, Líbia, etc ... etc ...

Assim, a Coreia do Norte vê-se como um Estado-guerrilha permanentemente ameaçado, e com razão.

 

* Iniciative Communiste é o jornal mensal do Polo do Renascimento Comunista em França (PRCF) – não se publica os videos e as referências a eles feitas no texto. – NT

 

Fonte: publicado em https://www.initiative-communiste.fr/articles/international/video-quelle-est-la-situation-en-coree/

Tradução do francês de PAT

 

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